LICEU DOA SANGUE

A Educação no século XXI: um continuar fazendo história
Luciane P. Cunha Rossi*
A Ciência não começa com aparelhos; ela começa com os olhos, curiosidade e inteligência.
Ao navegarmos pela história da Pedagogia, Ciência da Educação, encontraremos, entre todos os seus autores, a afirmativa de que “a Escola e a Educação são reflexos do mundo em que vivemos”.Rubem Alves Há muito se fala em “Educar para a vida”. Na Grécia Antiga, berço da Pedagogia, o objetivo educacional foi a formação de guerreiros: homens fortes e sábios na arte da luta. No Brasil, na época do descobrimento, o propósito educacional foi a catequização dos índios, cujo objetivo era “aculturá-los”. Durante o processo de colonização, a educação do escravo constituiu-se de modo a atender às necessidades feudais. No período da Ditadura Militar, a finalidade do processo pedagógico foi a formação do soldado. E, a partir da Democracia, houve a busca da formação do sujeito crítico. Assim, com base em uma perspectiva histórica, podemos perceber o movimento dos fatos. E, que mesmo com tantos percalços evoluímos sempre! Estamos no século XXI: momento em que, muitas vezes, falta-nos tempo. A velocidade da história mudou e muda constantemente. Precisamos estar antenados, conectados, plugados, digitalizados, ATENTOS ao que nos rodeia. No que se refere à Educação, novos diferenciais estão sendo anunciados. As informações são transmitidas, obtidas, resgatadas, reformuladas em fração de segundos, em tempo real, de um lado ao outro do mundo. Vivemos num emaranhado de vozes, sons, imagens, efeitos e máquinas e convivemos com pessoas que constantemente se reciclam, reorganizam-se, aprendem e inovam. Nesse contexto, nasce o valor da CAPACIDADE e DO SABER FAZER PERGUNTAS INTELIGENTES e, com eles, a importância da reflexão, a ousadia centrada em fontes seguras, em conhecimentos que se tornam propriedade, competências. CRIATIVIDADE lança-se como a palavra do século! E as escolas? A Educação? A Pedagogia? A Ciência? Elas são, fazem, sentem, anunciam, promovem, conscientizam, pesquisam, oferecem, permitem, organizam, criticam, VIVEM todos esses elementos simultaneamente. Educar é viver. Citando Rubem Alves: “O objetivo da aprendizagem é viver, não é preparar um futuro a ser vivido”. Sendo assim, vamos deixar de lado o medo, a insegurança, a nossa zona de conforto e ousar, descobrir novas possibilidades, refletir, reaprender, crescer, CRIAR. As novas tecnologias não serão valiosas se não forem sentidas. Se nelas não colocarmos a criatividade (ato essencialmente humano) que as produz e promove, em benefício da História, da Ciência, da Educação, da qualidade do ato de aprender e ensinar, fazendo da escola a vida e da vida uma escola!
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*Luciane P. Cunha Rossi é Coordenadora Didático-Tecnológica do Colégio de Vinhedo, em Vinhedo (SP).
Pedagoga graduada pela Unicamp e especialista em Gestão Educacional. |
Motivação infantil: sua importância para a vida adulta
Armando Correa de Siqueira Neto*
A motivação humana é observada desde tenra idade e sob diferentes formas. O bebê que busca a satisfação de sua fome, somada ao aconchego de um colo quente e acolhedor, demonstra, ao sugar o peito ou uma mamadeira, possuir motivação de sobra, impulsionada por seu instinto e fisiologia, que cobra dele a nutrição e os afetos — expressos pelo choro, por vezes intensos e fortes, e pelos movimentos mais bruscos de braços e pernas.Em outra época, em que o desenvolvimento permite certa independência de movimentos de locomoção e de manipulação de objetos, vêem-se outras possibilidades inerentes ao tipo de motivação na criança. No brincar, especial circunstância do cotidiano infantil, encontra-se rica fonte de informações acerca do mundo interno dela: suas emoções e pensamentos. Para a criança, que busca entretenimento de diversas formas, valendo-se de sua ilimitada criatividade, os objetivos do brincar demonstram ter pouca importância; ao contrário de sua exploração e de seu meio. Ao observá-la durante a brincadeira, percebe-se que há momentos em que, ao brincar, ela apenas age sem qualquer finalidade. Todavia, há circunstâncias em que a criança encontra uma finalidade naquilo que está fazendo. Por exemplo: ela pode encher uma pequena pá de areia e permanecer imóvel, tentando imaginar o que fazer com aquilo. E pode iniciar um movimento freqüente de esvaziar a areia em uma caçamba de brinquedo, demonstrando, assim, emprego concentrado de energia naquela atividade, além de se manter estável na freqüência de seus comportamentos. Isto posto, pode-se caracterizar tal situação dividindo-a em duas etapas. Na primeira, existem os objetos (pá e areia), mas não há uma finalidade a ser atingida. Na segunda, é acrescido um novo elemento: a motivação, percebida na concentração exercida durante os freqüentes movimentos de encher a pá com a areia e esvaziá-la na caçamba repetidas vezes. Portanto, observa-se a forte presença de motivação por meio de determinada atividade em uma criança de tenra idade: aos 2 anos, por exemplo. Com o avançar da idade, nota-se novo momento de se construir a motivação. Um exemplo desse processo, na psicologia infantil, são as competências adquiridas. Tornar-se competente em seu meio social leva a criança à motivação. Uma habilidade motora específica nos esportes pode ser desenvolvida, e isso é capaz de acionar o desejo de se empreender tal atividade com determinado empenho. O reforço externo, relativo à performance das habilidades adquiridas, vindo dos pais e conhecidos, possibilita o incentivo à motivação. Se a performance for percebida pela criança ao adquirir um aperfeiçoamento, isso vai levá-la a desenvolver uma boa auto-estima e também à motivação intrínseca ou interna. Por outro lado, a criança que pouco percebe suas competências necessita de maior estímulo externo, possui baixa auto-estima, demonstra-se ansiosa e, ainda, enxerga pouca perspectiva de melhora em suas habilidades. O segredo está em conseguir conciliar o desenvolvimento da motivação intrínseca da criança (por meio da percepção dos avanços obtidos por ela própria e do processo necessário para que eles ocorram), com o apoio da motivação extrínseca ou externa (avaliação dos adultos, informações a respeito, elogios verdadeiros, etc.). Esse tipo de desenvolvimento requer acompanhamento, contato e participação. Os afetos devem estar presentes, uma vez que são fonte fundamental de motivação, além das informações que se fazem presentes em cada situação. Boa dose de paciência e vontade complementa o arsenal de instrumentos necessários ao adulto para que colabore quanto ao desenvolvimento motivacional da criança. A motivação deve receber especial atenção e ser mais bem considerada pelas pessoas que mantêm contato com as crianças, realçando a importância dessa esfera no desenvolvimento delas. A motivação é energia para a aprendizagem, o convívio social, os afetos, o exercício das capacidades gerais do cérebro, a superação, a participação, a conquista, a defesa, entre outros. Pais ou cuidadores, educadores e especialistas que lidam com as crianças podem levar em conta a construção motivacional na infância, antevendo suas decorrências futuras, tais como a autopercepção e o hábito de desenvolver a motivação intrínseca, reduzindo a necessidade de buscar motivação extrínseca para a realização de alguma tarefa. De que maneira os adultos compreendem a motivação na infância? Que tipo de acompanhamento é oferecido à criança visando ao seu desenvolvimento global e, particularmente, ao desenvolvimento da motivação? Que respostas relacionadas à motivação podem ser esperadas de um adulto que pouco desenvolveu sua capacidade motivacional intrínseca na infância? Compreender aspectos da motivação nesse período da vida facilita ao adulto o entendimento sobre que tipo de ajuda poderá oferecer à criança, desde que haja um compromisso nessa relação. A presença do adulto é fundamental. A criança se sente motivada a executar muitas tarefas em virtude do reconhecimento e das impressões daqueles com quem convive, na tentativa de demonstrar sua evolução e as conquistas que realiza. Os bons motivos serão sempre a chave para o desenvolvimento natural da criança, além de gerarem harmonia entre os elementos internos e externos, parte da própria natureza humana. A motivação infantil tem lugar de destaque no desenvolvimento de nossa espécie. Não é algo que deva ser fonte de preocupação posterior. É no aqui e no agora que as coisas acontecem. Essa oportunidade pode passar e, então, criar dificuldades em outro momento. Colaborar já é motivo para que haja boa qualidade no convívio atual e especial preparação para o futuro. Motive-se também!
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo,
consultor, conferencista e escritor. Desenvolve treinamentos organizacionais, palestras sobre psicologia preventiva e eventos educacionais. E-mail: selfpsicologia@mogi.com.br |
Com o que sonham os alunos?
“Sonho que se sonha só
Tecnologia é um recurso que faz sonhar. Quando vemos uma novidade tecnológica, ficamos fascinados, imaginando o que poderíamos fazer com aquele recurso. Também pensamos como será o futuro, agora que o presente parece estar tão diferente.é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade.” Raul Seixas Mais ou menos 30 anos atrás, Seymour Papert já teve seus sonhos a respeito dos efeitos da informática sobre a Educação. Imaginava os computadores pessoais como ferramentas de aprendizagem. Para ele, “o computador é importante por dar autonomia intelectual ao aprendiz a partir dos primeiros anos de escolarização e, assim, tornar a criança menos dependente de adultos como provedores de informação. Ademais, para ser eficaz na escola, o computador, segundo Papert, deveria ser como livro e caderno, sempre disponíveis” (Cysneiros, 2008). Exatamente agora que vislumbramos a possibilidade de cada aluno ter seu próprio computador, resolvemos descobrir com o que sonham as crianças quando o assunto é tecnologia e Educação. Aproveitamos o momento do fascínio dos alunos de 10 anos de uma escola pública e de duas escolas particulares de dois estados brasileiros diante da presença constante do computador em sala de aula para lhes perguntar como imaginam as escolas do futuro. Os resultados revelam uma compreensão profunda a respeito da função da tecnologia para a Educação. A primeira reação dos alunos que tiveram a surpresa de ter um computador à sua disposição na sala de aula, algo que nunca haviam presenciado, foi pensar em outros recursos que poderiam fazer parte da sua rotina escolar. Na sua imaginação, colocam computadores nos mais variados locais da sala de aula. Imaginam máquinas fantásticas, elevadores ultrapossantes e muitas outras geringonças elaboradas. Os alunos também pensam nas outras crianças que ainda não têm computadores para usar nas aulas e mencionam que será bom quando todas puderem ter um computador para si na escola. Na sua imaginação, é muito simples cada criança ter o seu. Dando mais liberdade aos seus sonhos, os alunos aproveitam para retirar da sala de aula aquilo que lhes desagrada. Eliminam o quadro de giz e colocam um superlaptop em seu lugar. Um sonho bem próximo da lousa digital, que já foi criada em outros sonhos. Já os alunos mais pé no chão eliminam cadernos e borrachas, exatamente o material que adoraram deixar de lado enquanto usavam os computadores. Percebe-se que sonham com trabalhos escolares mais bem acabados, sem pó de giz, sem textos e desenhos rascunhados, sem re-escrituras e re-facções, mas com edição. O mais interessante é que, pensando um pouco mais, os alunos descobrem que a Educação não se limita à instalação de equipamentos maravilhosos na escola. Lembram-se de outros aspectos humanos ligados a ela, que definitivamente não sairiam da escola mais equipada do mundo: professores, colegas e aula de Educação Física. Essa constatação revela que, mesmo com a experiência de uso de computadores individuais, os alunos não idealizam um processo educativo individualista ou sedentário. Por fim, os estudantes revelam o que melhoraria na escola com a tecnologia. Esse é o aspecto mais revelador do seu sonho, pois aponta para a experiência que efetivamente tiveram com a tecnologia e que imaginam que será potencializada no futuro. A grande maioria dos alunos acredita que, com tecnologia, haverá mais aprendizagem. A tecnologia também é associada a alunos mais alegres e a uma escola mais divertida, avançada, inteligente, criativa e interessante. Os alunos de escolas públicas acrescentam que as escolas serão mais bonitas e prepararão para o mundo profissional. Acima de tudo, afirmam que são eles que vão fazer todas essas mudanças acontecerem e pretendem ser professores nessa nova escola. De fato, este mundo de sonho realmente experimentado por 150 crianças está muito próximo daquele imaginado pelos grandes pensadores da Educação durante os últimos séculos. Um mundo repleto de aprendizagem, que é o principal papel da escola, e com muita interação, alegria e criatividade. *Agradeço aos alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, de São Paulo/SP, do Instituto GayLussac, de Niterói/RJ e do Colégio E. M. Leodete Silvério Loi, de Barretos/SP pela contribuição valiosa que resultou neste artigo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CYSNEIROS, P. G. Prefácio à edição revisada brasileira. In: PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Betina von Staa é coordenadora de pesquisa em tecnologia educacional e articulista da divisão de portais da Positivo Informática. Autora e docente de cursos on-line para a COGEAE, a Fundação Vanzolini e o UnicenP, é doutora em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC-SP.
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