Como deve atuar o orientador educacional
A atuação do orientador se potencializa quando é integrada ao trabalho dos professores
Um dos principais papéis do orientador educacional é fazer uma escuta atenta das relações interpessoais construídas no cotidiano, ajudando a revelar o currículo oculto que se produz e reproduz nos diversos ambientes de aprendizagem. A atuação dele, porém, se potencializa quando está integrada ao trabalho da equipe pedagógica. Vamos analisar essa função usando a experiência concreta que aconteceu em uma escola na capital paulista.
Um professor de Ciências procurou a orientadora educacional preocupado com o comportamento de três alunos que, apesar de apresentarem desempenho satisfatório, se mostravam dispersos, desatentos e conversavam muito, segundo o docente. A orientadora se propôs a acompanhar as aulas durante alguns dias. É importante frisar que, nessa instituição, os orientadores são frequentemente convidados por docentes, alunos e coordenadores a observar as relações que se desenvolvem nos espaços coletivos, como a sala de aula, a biblioteca, a cantina, o parque, a quadra, os banheiros etc., pois o que neles acontece é tido como uma importante ferramenta de análise.
A primeira ida da orientadora à classe antecedeu a avaliação mensal da disciplina. A maioria do grupo se mostrou envolvida com as atividades, expondo as dúvidas ao professor, que as respondia claramente e introduzia comentários problematizadores nas explicações. Aparentemente, a aula transcorrera bem. Uma das estudantes que preocupavam o docente havia faltado e os outros dois foram colaborativos e não conversavam paralelamente mais do que os colegas.
A orientadora voltou a observar a turma após a avaliação. Nessa ocasião, o professor iniciou a aula devolvendo as provas corrigidas e explicando que, em vez da revisão coletiva, preferia fazer comentários gerais, indicando os erros. Os alunos tinham de identificá-los e aqueles que haviam tirado 6 ou menos poderiam refazer as questões, acrescentando assim um ponto à nota inicial.
A orientadora educacional notou que, além de não prestar atenção, oito estudantes (do total de 26) estavam preocupados em copiar a prova de uma colega que havia tirado dez - entre eles, um dos que preocupavam o professor. Ela também percebeu o incômodo de um jovem e perguntou a ele o que se passava: "Tirei 6,5. Portanto, não posso refazer os exercícios. Eu preferia ter tirado seis, assim minha nota subiria para 7".
Ilustração: Guilherme Lepca
Voltando à história, a orientadora educacional combinou uma entrada conjunta com o docente em sala para discutir o episódio. Boa parte dos alunos não havia refeito os exercícios, certamente por não ter atribuído sentido à tarefa. Quais foram as motivações dos que desprezaram a proposta? E dos que a realizaram? E daqueles que copiaram as respostas da colega? Como a jovem que emprestou a prova entendeu o episódio? Todos foram convidados a se pronunciar, pois não se tratava de julgamento, mas de um diálogo de esclarecimento.
Não cabe aqui explicitar o conteúdo dessa conversa, mas apontar que ela propiciou várias aprendizagens. Evidenciou-se que o sistema avaliativo estava transmitindo a mensagem de que a nota era mais importante que o processo de aprendizagem. A inquietação com a postura dos jovens foi substituída por outras mais pertinentes, entre elas o sentido dado às avaliações - e o tema passou a ocupar lugar de destaque nas reuniões pedagógicas e na sala de aula. A parceria entre o professor e a orientadora educacional possibilitou que uma reclamação sobre comportamento se configurasse em um problema coletivo para os corpos docente e discente - como geralmente acontece. A interlocução ganha força e toda a comunidade se beneficia quando uma queixa é tratada em profundidade.
Catarina Iavelberg
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