A carroça
Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Após algum tempo, ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou: – Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa? Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi: – Estou ouvindo um barulho de carroça. – Isso mesmo – disse meu pai – e é uma carroça vazia! Perguntei a ele: – Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos? – Ora – respondeu meu pai – é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz. Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grosseria inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo mundo e querendo demonstrar ser o dono da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo: – Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz!
A assembléia
Contam que numa carpintaria houve uma vez uma estranha assembléia. Foi uma reunião de ferramentas para ajustar suas diferenças. O martelo exerceu a presidência, porém a assembléia o notificou que tinha que renunciar. A causa? Fazia demasiado ruído! E, ademais, passava o tempo todo golpeando e fazendo barulho. O martelo aceitou sua culpa, porém pediu que também fosse expulso o parafuso;disse que tinha que dar muitas voltas para que servisse para alguma coisa. Diante do ataque, o parafuso aceitou também, porém, por sua vez, pediu a expulsão da lixa. Fez ver que era muito áspera em seu trato e sempre tinha atritos com os demais. E a lixa ficou de acordo, com a condição de que fosse expulso o metro que sempre passava medindo aos demais segundo sua medida, como se fora o único perfeito. Nesse momento, entrou o carpinteiro, pôs o avental e iniciou seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e parafuso. Finalmente e após horas de trabalho, a grosseira madeira inicial se converteu num lindo móvel. Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembléia retomou a deliberação. Foi então quando tomou a palavra o serrote, e disse: “Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, porém o carpinteiro trabalha com nossas qualidades. Isso é que nos torna valiosos. Assim que não pensemos em nossos pontos negativos e nos concentremos na utilidade dos nossos pontos positivos”. A assembléia então chegou à conclusão que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para afinar e limar asperezas e observaram que o metro era preciso e exato. Se sentiram então uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Se sentiram orgulhosos de suas forças e de trabalhar juntos. Ocorre o mesmo com os seres humanos.A coragem de enfrentar seus medos
Diz uma antiga fábula que um camundongo vivia angustiado com medo do gato. Um mágico teve pena dele e o transformou em gato. Mas aí ele ficou com medo de cão, por isso o mágico o transformou em pantera. Então ele começou a temer os caçadores. A essa altura o mágico desistiu. Transformou-o em camundongo novamente e disse: – Nada que eu faça por você vai ajudá-lo, porque você tem apenas a coragem de um camundongo. É preciso coragem para romper com o projeto que nos é imposto. Mas saiba que coragem não é a ausência do medo, é sim a capacidade de avançar, apesar do medo; caminhar para frente; e enfrentar as adversidades, vencendo os medos… É isto que devemos fazer. Não podemos nos derrotar, nos entregar por causa dos medos.
A arte do silêncio
Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o vizinho acabou sendo preso. Algum tempo depois, descobriram que era inocente. O rapaz foi solto e, após muito sofrimento e humilhação, processou o vizinho. No tribunal, o vizinho disse ao juiz: – Comentários não causam tanto mal… E o juiz respondeu: – Escreva os comentários que você fez sobre ele num papel. Depois pique o papel e jogue os pedaços pelo caminho de casa. Amanhã, volte para ouvir sentença! O vizinho obedeceu e voltou no dia seguinte, quando o juiz disse: – Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem! – Não posso fazer isso, meritíssimo! – respondeu o homem. O vento deve tê-los espalhado por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão! Ao que o juiz respondeu: – “Da mesma maneira, um simples comentário que pode destruir a honra de um homem, espalha-se a ponto de não podermos mais consertar o mal causado.” “Se não se pode falar bem de uma pessoa, é melhor que não se diga nada! Sejamos senhores de nossa língua, para não sermos escravos de nossas palavras.”A culpa
É muito fácil apontar o dedo… especialmente porque nos sentimos culpados. É um ciclo vicioso que apenas pode ser quebrado quando alguém toma consciência do mesmo. Quando nos sentimos culpados, encontramos sempre alguém que nos aponta o dedo… para que possamos apontar o dedo a essa pessoa por nos ter apontado o dedo! Onde começou a culpa? Na nossa mente! Antes de sentirmos que alguém nos apontou o dedo, já tínhamos tido pensamentos de ataque contra nós mesmos. É invariável!!! Para mim, é importante perdoar as pessoas que eu senti que me apontaram o dedo. É a melhor forma que tenho de me perdoar por me ter culpado por essas situações! A resposta que dou aos outros, é a resposta que dou a mim mesma!! Quando me apontam o dedo, será útil apontar o dedo de volta? Ou será mais útil olhar para dentro, observar o que sinto e deixar partir? Ah, e é tão importante observar e reconhecer o que sentimos! Porque senão estamos apenas a passar por cima de sentimentos, que se vão mantendo dentro de nós porque não foram reconhecidos em consciência. De nada vale escondermo-nos dos sentimentos que não gostamos. E de nada vale usar os outros como bodes expiatórios daquilo que não queremos admitir em nós. E também de nada vale criar teorias à volta do que é mais simples do que imaginamos. Reconhecer o que sentimos, observar e já está… é tão simples. A nossa observação consciente desfaz qualquer equívoco. Desde que estejamos dispostos a ver o amor ao invés do medo!
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