Introdução:
Muitos não sabem para o que ele serve.
Outros nunca participaram de um. A grande maioria nem quer ouvir falar
nele. E é quase um consenso geral de que ele não serve para nada ! Você
sabe do quê estou falando ? Se respondeu: Conselho de Classe, acertou !
Agradeço a todos os Professores que
colaboraram postando comentários no nosso blog e compartilhando suas
experiências no que refere-se a participação nos Conselhos de Classe,
inclusive com algumas sugestões muito pertinentes e interessantes.
Espero que todos tenham lido. Afinal é esta a ideia do SOS Professor,
ser um espaço colaborativo, um ambiente onde possamos compartilhar
aprendizados e enriquecer nossa prática.
Conselho de Classe que não resolve nada:
O vídeo “ Conselho de Classe” que é um
trecho do filme Entre os Muros da Escola, reflete bem a realidade da
grande maioria das nossas Escolas, excetuando pela participação das
alunas representantes de sala, o vídeo é uma cópia, sem tirar nem por,
do que vivenciamos nos Conselhos de Classe pelo Brasil afora.
O grupo reúne-se e então os Professores
sentem-se livres para manifestarem-se sobre os alunos. Os diálogos
versam sempre sobre o comportamento e problemas de indisciplina do
aluno, tendo seu desempenho e sucessos desconsiderados. São diálogos
entrecortados de comentários, opiniões, juízos de valor, julgamentos,
preconceitos e achismos. Onde todos buscam o apoio e anuência uns dos
outros como que para validar as afirmações feitas.
Muitas vezes o fracasso do aluno é
atribuído a causas psicológicas e então são emitidos juízos de valor
baseados no senso comum e não em laudos diagnósticos ou fonte segura que
o ampare. Ao invés de avaliar o processo de aprendizagem, a interação
pedagógica, e a eficiência da prática pedagógica do professor, o
Conselho presta-se apenas para apontar e julgar comportamentos.
Neste modelo de Conselho de Classe,
nada de fato é discutido e de fato nada é solucionado. Todos desabafam,
todos discorrem livremente suas angústias, alguns nem falam pois não são
apoiados nas suas colocações, então tudo fica na mesma.
Qual a finalidade do Conselho de Classe :
Antes de debatermos como deve ser
realizado um Conselho de Classe, preciso esclarecer qual é a finalidade
do mesmo. É preciso saber o porquê deste tipo de Reunião, para quê ela é
realizada, e qual é o papel das pessoas que lá estão.
A palavra “ conselho” vem do latim consiliu e, conforme o Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa tem os seguintes significados: 1 Juízo, opinião, parecer sobre o que convém fazer. 2 Aviso, ensino, lição, prudência. 3 Tribunal. 4 Reunião ou assembléia de ministros. 5 Corpo coletivo, com função consultiva ou deliberativa. 6 Reunião de pessoas que deliberam sobre negócios particulares. 7
Reunião do corpo docente da universidade, escolas superiores ou
secundárias, presidida pelo reitor ou diretor, para tratar das questões
do ensino.
Assim, é correto afirmar que quem
aconselha deve ser uma pessoa prudente, ter bom senso, discernimento,
domínio próprio, autoridade e notório saber na questão consultada. Desta
forma fica claro que ninguém consultará a vizinha sobre um investimento
na Bolsa de Valores, ou a Merendeira se um aluno necessita de
tratamento Psiquiátrico. É preciso ter competência e conhecimento da
questão para emitir declarações.
Daí a importância da Educação
Continuada, pois , especialmente no nosso caso, enquanto Educadores, não
podemos resvalar no senso comum, achismo é coisa de gente que não está
preparada devidamente para argumentar. Devemos ter bases sólidas e
seguras, não apenas na nossa área de atuação, mas dentro do possível
estarmos atualizados sobre o que ocorre em áreas correlacionadas a
nossa. Buscar o conhecimento tem de ser um estilo de vida, e não apenas a
busca de um certificado.
Fiz esse recorte para que você
compreenda que um Conselho é composto de pessoas, e estas exercerão o
papel de Conselheiros, que terão o objetivo de ponderar, aconselhar,
orientar, propor, discernir as melhores intervenções e soluções para uma
determinada questão. Mas quais questões esses “ Conselheiros” terão de
ponderar e aconselhar ?
Bem, o Conselho de Classe é uma reunião
avaliativa em que diversos especialistas envolvidos no processo
ensino-aprendizagem discutem acerca da aprendizagem dos alunos, o desempenho dos docentes, os resultados das estratégias de ensino empregadas, a adequação da organização curricular e outros aspectos referentes a esse processo, a fim de avaliá-lo coletivamente, mediante diversos pontos de vista.
Reflita por um momento: um Conselheiro
preparado poderá ser justo, sábio e ponderado no momento de deliberar.
Já um Conselheiro despreparado, relapso com suas funções, incompetente
na sua área de atuação e negligente com suas tarefas jamais poderá
contribuir com soluções para o crescimento dos Alunos, da Equipe ou da
Instituição.
Que tipo de Conselheiro você desejaria ter ao seu lado no próximo Conselho de Classe ?
Sugestões para um Conselho de Classe eficaz:
A grande maioria das Escolas está
utilizando um modelo de Conselho de Classe que não funciona, ou que não
atende totalmente aos objetivos de um Conselho de Classe, o qual não se
restringe apenas a discutir notas ou comportamentos dos alunos.
O modelo eficiente deve contemplar como
já foi dito anteriormente as seguintes questões a serem discutidas no
Conselho de Classe:
- Aprendizagem dos alunos
- Desempenho dos docentes
- Resultados das estratégias de ensino empregadas
- Adequação da organização curricular
- Outros aspectos referentes a esse processo
Abaixo algumas sugestões para você estruturar seu próximo Conselho de Classe:
. Pré-Conselho com a Turma:
– Rendimento Turma:
logo após as provas realize com a Turma um Pré-Conselho, selecione os
itens que deseja medir o avaliar com a turma tais como: rendimento da
classe (media geral da sala), comportamento, participação,
comprometimento, etc.
- Rendimento Professor: peça para a
turma Avaliar o seu Desempenho no que refere-se a: Metodologia
utilizada, Atividades, Ritmo da Aula, Práticas de Ensino, Organização
dos Espaços da sala, etc.
- Metas/Combinados: discutam
intervenções para implementar as mudanças que forem necessárias para a
correção dos problemas levantados por ambos os lados
. Diagnóstico da Turma:
Você já elaborou o diagnóstico de cada
aluno no início do ano. Então transcreva esses dados em uma única Ficha
e leve para os Conselheiros apenas com os casos mais delicados para
serem discutidos. Aborde o rendimento pedagógico, comportamento,
resultados alcançados, outras questões que estão interferindo na vida do
aluno. Lembre-se Você conhece o seu aluno, porém os demais Conselheiros
talvez não estejam totalmente a par de determinados detalhes, e isso
pode fazer toda a diferença na hora de ponderar a melhor intervenção.
. Conselho em 2 Atos:
Neste caso o Conselho seria realizado em
2 momentos distintos, onde no 1º. Momento contaria com a presença de
Representantes de Classe, e no 2º. Momento apenas com os Professores.
Obs: Caso a Turma já tiver realizado o
Pré Conselho com o Professor em Sala de Aula não haveria a necessidade
de realizar o Conselho de Classe em 2 Atos.
1º. Ato: Participação Representantes de Turma (debate de questões relativas a Turma)
Neste momento ocorreria a participação
de Representantes de Turma, pois os Representantes discorreriam sobre
as mudanças e/ou problemas que gostariam que fossem solucionados no que
refere-se a didática do Professor, metodologia, postura, etc.
Os Professores, por sua vez, colocariam
as questões que estariam enfrentando com aquela Turma . Todos debateriam
algumas proposições, e já ficaria definido as intervenções a serem
adotadas. Seria registrado em Ata para as Representantes assinarem e
então este momento seria finalizado.
2º. Ato: Conselho apenas com Professores
Neste momento o Conselho seria realizado
apenas com os Professore, sem os Representantes de Turma, onde seriam
discutidos os casos individuais dos alunos, bem como os demais assuntos.
CONCLUSÃO:
O Conselho de Classe é uma oportunidade
de reunir os professores com o objetivo de refletir sobre a
aprendizagem os alunos e o processo de ensino.
Pedir que os alunos se avaliem, reflitam
sobre suas falhas, sobre sua atuação é fácil, o difícil é os
professores fazerem o mesmo. Para exercitar essa difícil prática é que o
conselho deve começar com a autocrítica dos professores.
O que o professor diz na autocrítica
deve servir como elemento para a coordenação ajudá-lo a superar as
dificuldades apresentadas, confrontar o problema com os que os outros
professores também apresentam para, juntos, buscarem a superação. A
coordenação dever ter claro que, também, a avaliação, não é para
classificar o professor e sim ajudá-lo a desempenhar melhor o seu
trabalho.
Ao fazer o Conselho de Classe contemplando seus reais objetivos a Escola atinge os seguintes resultados:
• Promove uma visão abrangente do papel da avaliação no processo ensino-aprendizagem;
• Valoriza o progresso individual do aluno, seu comportamento cognitivo, afetivo e social ;
• Reconhece o contexto familiar em que o aluno está inserido;
• Incentiva a auto-análise e auto-avaliação dos profissionais de ensino;
• Propicia mudanças tanto na prática docente, no curriculo e na dinâmica escolar;
• Traça metas para que as mudanças sugeridas sejam efetivamente realizadas.
Há outros problemas sérios que
contribuem para o fracasso escolar, tais como a negligência da família, a
capacitação deficiente, a falta de estrutura, a indisciplina, etc,
etc.
Por outro lado não podemos cair na
armadilha de que tudo é a estrutura, a lei, o sistema e ninguém assume
nada. Pois há condições às vezes de mudanças significativas, com as
reais condições de um instrumento que a escola já apresenta e que está
em nossas mãos fazer uso: o Conselho de Classe.
E você o que acha? Compartilhe no blog.
Bibliografia :
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. São Paulo: Cortez, 1988.
FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: As setas do caminho. 4.ed. Porto Alegre: Mediação, 2002.
PATTO, M. H. S. Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à psicologia escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1987.
_____. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1990.